Notas do Painel de Bloggers, Reportagem de #ABC — A Bloggers Conference

A sala encheu. Estavam umas 110–130 pessoas (não sei se os 20 que não apareceram estão incluídos).

Uma das painelistas (Catarina Beato) surpreendeu pelo estereótipo de introvertida: subiu ao palco de costas para o público, tirou fotos ao palco, sentou-se a olhar para o telemóvel. Durante a manhã, várias vezes se concentrou no telemóvel.

Painelistas

Quando os painelistas se apresentaram, surpreendeu-me que a maioria fosse jornalista, agora ou no passado. Estamos no mundo dos "escritores profissionais", mesmo que não ganhem dinheiro com o blog.

Moderadores

Os moderadores lançaram cinco perguntas aos painelistas, que cada qual comentou, antes do intervalo. Depois do intervalo, permitiram ao público que fizesse as perguntas.

1. Porque começaram?

FG: Jornalista. Descansa a escrever para o blog. Mais liberto que profissionalmente. Paixão de correr, mas envolve outras coisas.

SCF: Quando saiu de Portugal. Para os outros acompanharem.

PRD: Inicialmente falava-se de blogs de pessoas muito conhecidas. Ficavam de fora os outros.

CB: Jornalista. Da necessidade de ser lida.

IZR: Ficou de férias em Lisboa, escreveu sobre a sua experiência diária. Quiz fazer um blog temático. Receitas com partes da vida dela.

MV: Começou porque era uma consumidora ávida de blogs. É bancária. Tem um blog sobre decoração.

2. Peso de gostar da escrita, ou de afinidade sobre um tema.

FG: Queria escrever publicidade, copywriting. Apaixonou-se pela escrita. Fez primeiro blog para partilhar estadia no estrangeiro com amigos. Quando lançou blog de corrida, o jornalismo deu-lhe uma vantagem. Dois tipos de escrita: cuidada (e editada) ou imediata (smart phone nos transportes públicos). Convocou corrida em Algés, apareceram 10 pessoas, com ténis recomendados por ele. Agora recebe ténis em casa para avaliar. Grande comunidade internacional de corredores urbanos.

SCF: Filha mais velha, tinha de seguir percurso mais certinho, pai fazia-a escrever sobre política. Foi por Direito por influência do pai. Interacção com leitores fê-la criar uma marca, o seu ganha-pão. "Inspirar outras pessoas a fazer melhor".

PRD: Interactividade com leitores generosa ou absurda, depende da disposição do próprio. Sempre quiz ser jornalista. A base do jornalismo é a palavra. Não há a responsabilidade dos jornais, porque os leitores não pagam para ler. Depois do texto escrito, não acrescenta nada. Os comentários são apenas dos leitores.

CB: Pai enviava textos para DN, Alice Vieira publicava, escreveu-lhe coisas que lhe deram força quando duvidou. Frequentava MIRC. No início desejava exposição, mas agora há uma dualidade. Fez o livro, mas será que expôs demasiado a si e aos filhos? Blog é diário sem o qual sobreviveria mal. 99% bom, 1% não tão bom.

IZR: "O blog tem mudado a minha vida". Uma brincadeira levou a cursos de escrita criativa, de fotografia. Escrever todos os dias exige uma grande ginástica. Há um percurso. Um blog agora que nasce já é sempre tão bonito! Importância dos comentários. Faz "show cookings".

MV: Importância de pessoas que entram em contacto, para mostrar coisas que viram, para pedir ideias. Aspecto da comunidade é fundamental.

3. Exposição da vida privada?

FG: Só expõe a mulher, que também corre. O post com mais visitas é dela. Dizer mal aumenta as leituras.

CB: Deixou de escrever quando ficou grávida do segundo filho, porque não quis que o pai soubesse do filho através do blog. Depois, educa dois filhos de pais com capacidades económicas diferentes: filho rico, filho pobre. Agora o filho veta as fotos dele, e também se o que diz vai para o blog. Aprender a escrever sem expor as pessoas visadas.

IZR: Medo inicial da exposição dos nomes. Agora perguntam: "então este almoço vai para o blog?"

4. Caso mais marcante com um leitor?

SCF: Leitora que a conhecia de todos os dias deixou-lhe um presente no FrutAlmeidas, para o filho. Medo.

PRD: Publicou crónica sobre amizade a propósito de um concerto. No blog, republicou crónica quando não tinha nada para dizer. Funcionária da Novabase fazia 50 anos, queria ler texto aos amigos. Pedro não jantou, esperou na cozinha até às 23h para ler o texto.

CB: Não há uma gralha que passe. Noutro blog, queixaram-se que CB escrevia brócolos com "u", e era verdade. Já se apaixonou perdidamente por um leitor. Conheceu outra blogger (Diana) que anunciou que se casava com o leitor 50000. Estão casados, com dois filhos.

IZR: Anunciou desejos do ano, que incluía apanhar espargos. Uma leitora levou a coisa a sério. Foi ao Alentejo, teve um dia maravilhoso. No meio de uma feira de Foz Côa, uma velhinha diz "É a Laranjinha!"

MV: Evitou falar do marido e dos filhos mas, uma vez quando saiam de casa, o marido ouviu: "A sua mulher tem um blog, não tem?"

5. Quais os ingredientes para um blog de sucesso?

PRD: Links, normalmente vêm do blog "coco na fralda". Perdeu muitos leitores quando deixou de estar linkado na "pipoca mais doce". Palavras no título: conotações sexuais vendem, ou algumas marcas.

CB: O que é o sucesso? Dinheiro? Leitores? Prazer na escrita? Definir objectivo (que receita?), ser honesto, lutar. Alimentar um blog dá muito trabalho. Mãe infeliz por filha só ter duas pessoas no lançamento de livro na FNAC de Coimbra: "se tivesses escrito sobre sexo, isto estava cheio". Existe uma profunda falta de respeito pelo trabalho das pessoas. Propuseram-lhe fazer um passatempo para distribuir pelos miúdos, mas ela tinha que pagar o envio das coisas às pessoas (€10), mas não ficou com nada para ela. Blogs de moda estão organizados, são um negócio.

IZR: Trabalho, continuidade (uma vez por semana ou mais), cuidado com a escrita, com a apresentação de imagens, evitar imagens dos outros sem atribuição, passar sempre informação credível. Marcas querem saber número de leitores, seguidores no Facebook. Espectadora queixa-se que todos os blogs falam da mesma coisa na mesma semana. Bloggers recebem prendas para escrever, mas não dinheiro. Já dedica metade do tempo ao blog.

6. Como é que vocês têm tempo?

Pergunta colocada pelo público.

FG: Aproveita quando o filho está a adormecer, ou a hora de almoço, agenda posts quando sabe que vai ter dias difíceis. Usa app Flipboard, de onde adapta ideias. Dedica 1h por dia aos blogs.

CB: Escreve no telemóvel enquanto os filhos estão na casa-de-banho. Ou no fim do dia, ou no início da manhã. iPhone. É uma forma de respirar ar puro.

IZR: Tem que haver muita organização e disciplina. Testa e fotografa todas as receitas antes de as publicar. Pediu redução de horário. Dedica todo o tempo extra-laboral ao blog. Chega a fazer 10 receitas por fim-de-semana. Há sempre quem se ofereça para comer... Processo de investigação para criar variantes únicas das receitas.

MV: Filhos com 3 e 1,5 anos. Depois dos filhos irem para a cama, ela vai para o blog. De manhã lê os comentários.

7. Objectivos do blog têm que mudar com o blogger?

FG: Pessoas lêem o blog não por causa dele, mas para saber de eventos, e ele abre o espaço a outros escritores.

SCF: Blog teve evolução, com marca de formação.

PRD: Jornalistas não podem referir marcas, ou fazer divulgação. É crime. Ele já elogiou a Bimby. Isso distingue um jornalista de um não-jornalista. Por exemplo, jornalistas não podem ter acções em bolsa.

CB: Blog nasceu em transição profissional. Blog não abriu portas, foi a crónica no Dinheiro Vivo que lhe deu visibilidade. Blog pode ser fonte de rendimento? Mãe é rede financeira: quanto tempo me dás para tentar viver da escrita? Questão do aquecedor da Galp. Integrou rede da Clix, que lhe dará marcas para expor.

IZR: Objectivos mudaram, gostava de mudar de profissão. Foi professora, mas neste momento apetece-lhe outra coisa. Andamos sempre à volta do dinheiro. Quer desenvolver receitas para marcas, e que as marcas lhe paguem. Quando vai a um restaurante, já diz que o artigo foi patrocinado.

8. Futuro do jornalismo passa pelos blogs?

PRD: Acha que não. Modelo de negócio de jornais está esgotado, mas o jornalismo continuará a ser feito, seja em que plataforma for.

Pergunta minha. Quis perguntar se os blogs fazem parte do futuro do jornalismo, mas o Pedro Rolo Duarte respondeu apenas em termos do modelo de negócio, separando o trabalho profissional dos "verdadeiros jornalistas" (com a respectiva ética) do trabalho de amadores ou de profissionais com interesses comerciais (sem a ética jornalística).

9. Blogs de moda nas primeiras filas, em vez dos jornalistas?

FG: Enquanto jornalista, já se sentiu persona non grata numa conferência de imprensa.

PRD: Marcas disparam em todas as direcções. Mas está por provar o resultado que um blog tem nas vendas da Zara ou da H&M. Acha que é um fenómeno passageiro. Nunca sentiu grande pressão, e quando as marcas se queixaram tinham razão.

CB: Queixou-se no Facebook sobre um telemóvel, problema foi resolvido. Sente pressão dos leitores. As marcas só terão interesse se o blog tiver visitas. A grande guerra é por este mundo ser 90% de mulheres. Algumas empresas espanholas já começam a tratar de forma diferente os jornalistas e os bloggers.

IZR: Referência dela são os jornalistas.

MV: Martha Steward disse que bloggers não são profissionais.

10. Créditos de imagens?

Público: Para decoração, tira fotos de Pinterest, mas disseram-lhe que colocar os créditos das imagens é insuficiente? E quem não expõe a sua vida privada está em desvantagem?

IZR: Não faz nenhuma das receitas que põe no blog. Trabalha com fotógrafos, respeita o trabalho. Os blogs favoritos são aqueles em que vê a sua telenovela.

MV: Tem cuidado em chegar ao fotógrafo. Não basta dizer que veio do Pinterest.

11. Que distingue o vosso blog?

FG: A diferenciação foi o que o levou a começar. Recomenda que encontrem um nicho de mercado. Lógica de jornalista: tem entrevistas (marcas, organizadores de provas), tenta ter os produtos antes dos outros. Já conseguiu algumas cachas. Primeiro pensou que o blog devia ter uma lógica de revista (carrossel), mas conceito de blog (sem links) funciona bem.

SCF: O objectivo não é ser diferenciado. Tenta manter-se fiel ao que gosta.

IZR: Procura dar um bocadinho de felicidade às pessoas. Quem passe pelo blog que leve uma coisinha boa, um sorriso.

MV: Melhores imagens, aprender de fotografia, quer fotografar casas de pessoas. O blog é ela, os seus gostos, as suas preferências. Quer trazer material novo.

12. Qual a fonte de sucesso do blog, comparado com Facebook, Twitter, etc? Ou há ameaças?

PRD: No programa da A1, acompanhou evolução dos blogs. Acha que há hoje menos blogs que há cinco anos atrás: algumas pessoas passaram a usar Facebook, Twitter. É mais rápido. Mas os blogs que ficam são mais interessantes, são pessoas que pensam antes de escrever.

CB: Blogs vão continuar a existir porque as pessoas querem escrever e ser lidas.

Intervenção do público

Público, bibliotecária, antropóloga: blog gera memória. Facebook tem as "gordas" dos artigos, tipo "A minha cama tem poderes mágicos". Sugere que haja uma indexação dos blogs portugueses.

Partes

Este artigo é parte de Reportagem de #ABC — A Bloggers Conference:

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