Uma Homenagem ao Povo dos Amiais e Quinta da Paramuna

No dia 20 de Agosto de 2017, pelas 16:00H, o Grupo Rafael Baptista e Companhia, animou a Festa da Nossa Senhora da Saúde, com um concerto de homenagem ao povo dos Amiais, baseado num texto de Elvira Carneiro. O concerto realizou-se dentro da Capela, foi organizado em parceria com os Mordomos da Festa e fez parte do Cartaz.

Para além de outras músicas o Grupo apresentou o texto de Elvira Carneiro, escrito há cerca da 20 anos e apresentado agora ao público pela primeira vez e ainda quatro canções baseadas no mesmo, da autoria de César Ferreira:

  • A Quinta da Paramuna
  • Amiais Beira Alta
  • São Francisco dos Amiais
  • Povoação dos Amiais, com letra de Fabião Coutinho.

O processo de preparação, da descoberta do texto à sua apresentação, levou cerca 10 meses de trabalho.

Mais uma vez digo gente hospitaleira

A aventura teve inicio em Real, no dia 25 de Setembro de 2016.

Nesse dia, o Grupo de Música Nova Geração (do qual a Mariana e o Rafael fazem parte) e o Grupo do CPCD viajaram cerca de 300Km, da Póvoa de Santa Iria a Real, para participar no Festival da Abóbora. Éramos um grupo de cerca de 20 pessoas.

Foi com verdadeiro espanto e alguma emoção, que vi a surpresa e o deslumbramento das pessoas ao verificarem que tinham à sua disposição, uma casa de banho pública e mais, com muito asseio e higiene, diziam.

O meu espanto foi tanto maior, pois só nesse momento, tive consciência que nos Amiais não existia casa de banho pública. E mais, tinha estado na Festa da Nossa Senhora da Saúde, no mês anterior, sem que tal necessidade me ocorresse.

Em seguida, após a festa de São Francisco, realizada no dia 9 Outubro, Manuel Ferreira publica várias fotos da festa entre as quais consta a foto de um quadro da Capela. Sabia que esse quadro tinha sido uma oferta ao meu pai, pela população dos Amiais. Mas porquê a oferta, questionava-me?

Em simultâneo fui falando com várias pessoas, sempre a lamuriar-me: como era possível que não pensássemos em arranjar casa de banho, que nos Amiais não acontecia nada!!! Através de familiares fico a saber que quem está na origem da oferta do quadro é Elvira Carneiro. Solicito que me dêem o contacto dela.

Depois de várias telefonemas, a “Ti” Elvira surge a defender o povo dos Amiais, dizendo que nos Amiais também se fazem coisas. Que existem grandes pessoas e que uma delas é o meu pai. Segundo ela, a Capela de São Francisco que foi em tempos idos o Cemitério dos habitantes da povoação dos Amiais, esteve durante longas décadas em completa ruína, acabando por se tornar em casa de banho e que foi o meu pai, José (de Almeida) Lopes, o responsável pela recuperação da Capela. O Mecenas foi Joaquim Ferreira.

Conta a história da oferta do Quadro ao meu pai, em que ela e uma amiga, Lurdes Carvalho, foram de porta em porta angariar o dinheiro para comprar o quadro. A felicidade e o prazer que ambas sentiram, por todos os habitantes terem participado. Diz-me que até tem um texto escrito que gostava de ver cantado. Diz que entregou uma cópia ao mestre do Grupo de Cantares a que pertencia, mas o texto nunca foi apresentado.

Solicito à “Ti” Elvira que me faça chegar o Texto. Este, entra-me pela porta dentro em Janeiro de 2017.

A Quinta da Paramuna onde vivia gente muito alegre
Também perto está o Diabólico Penedo do Diabo e ao cimo o Talegre
na Quinta da Paramuna belas moças se criaram
E à procura de melhor vida a Paramuna deixaram.

Oh Quinta da Paramuna tão famosa que no mapa estás!
Era bom que de ti se lembrassem como eras há muitos anos atrás.
a Quinta da Paramuna como ela não há mais
foi dela que nasceu a Povoação dos Amiais.

A Povoação dos Amiais, como ela não há nenhuma
ela tem como mãe a Quinta da Paramuna.

Chegamos aos Amiais, boa gente hospitaleira.
Vamos dizer a melhor gente da Beira!

Aqui temos Nossa Senhora da Saúde, Senhora tão Preciosa
que cura os enfermos Santa tão Milagrosa.

Muito acima, temos o Senhor da Agonia
E ao fundo o São Francisco fecha as festas da Freguesia.

O São Francisco viveu numa casa emprestada,
mas graças a José de Almeida a casa foi restaurada.
Depois da casa restaurada houve a sua inauguração
O São Francisco andou pela aldeia numa linda procissão.
Durante a procissão houve foguetes até
graças a José de Almeida que os foi buscar à Cunha Baixa a pé.

Desta Capela em ruínas, este homem de grande fé
com a ajuda de alguém pôs a capela em pé.
Dela cuidava com tanta alegria
que uma homenagem ele merecia.

Foi então que um dia numa exposição,
eu vi a capela de São Francisco e
como conhecia o passado deste belo homem,
pensei: eu comprava-te mas não posso,
mas mesmo assim, mandei guardar quadro até nova ordem.

Ao chegar a casa peguei numa esferográfica num caderno
e num saquito e fui ter com uma amiga,
perguntei-lhe se me queria acompanhar para angariar o dinheiro
para comprar o quadro que o homem tanto merecia.
E lá fomos de casa em casa, toda a gente participou.
Fui buscar o quadro, comprou-se um candeeiro para a Capela
e uma lembrança para o benfeitor Joaquim Ferreira
que ajudou José de Almeida a pôr a Capela em pé.

Ó Senhora da Saúde dizei-me onde morais
Freguesia do Castelo no lugar dos Amiais

No lugar dos Amiais onde está tão bela Rosa
a Senhora da Saúde Santinha tão milagrosa

Ao cimo dos Amiais está o Senhor da Agonia
Ao fundo está São Francisco que fecha as festas da Freguesia.

Ò Gente dos Amiais, Gente Hospitaleira, mais uma vez eu digo,
Obrigada!

— Elvira Carneiro

Depois de o ler e digerir apercebi-me da dificuldade que teria em descobrir alguém capaz de tornar o sonho da “Ti” Elvira uma realidade.

Três desafios

O primeiro nome que me ocorreu para para tão grande empreitada, foi Fabião Coutinho, um poeta que escreve lindas Quadras e um dos músicos, que esteve no Festival da Abóbora em Real. Para meu grande espanto, o Fabião aceitou o desafio que lhe apresentei. Depois de fazer-lhe um visita guiada pela aldeia dos Amiais, das suas gentes, usos e costumes, conforme a história que a “Ti” Elvira me contara, entreguei-lhe o texto e a foto da Capela de São Francisco. Surge assim, a letra de “Povoação dos Amiais”.

A ideia era acabar por aqui, mas faltava ainda qualquer coisa! Para além do mais, faltava sempre a música para o texto do Fabião. Então surgiu-me a ideia de lançar “rede” ao César Ferreira.

O César é neto e filho de pessoas nascidas na Quinta da Paramuna, responsável pela criação do Grupo Rafael Baptista e Companhia, ex-aluno do Conservatório Nacional de Música, membro de diversos Grupos de música.

Depois do desafio ao César, um amante de música por natureza, o texto cresceu e multiplicou-se, dando origem aos textos: A Quinta da Paramuna, Amiais Beira Alta e São Francisco dos Amiais.

Depois das letras, da música e do grupo para as tocar, Rafael Baptista e Companhia, falta agora alguém que lhes dê voz, para dar mais vida às mesmas.

A escolha só podia ser, Rui Rodrigues, neto de José de Lopes. O Rui é aluno de Canto, na escola “Lugar da Música”, o que me deu direito a assistir a uma Audição no dia 24 de junho de 2017, no Fórum Lisboa. Faz parte do Grupo de Jovens “Rumo à Vida”. Tem participado em diversos eventos organizados pelo grupo, o último dos quais o Concerto de Reis que se realizou, no dia 22 de Janeiro de 2017. Participou no XIX Festival Diocesano da Canção Cristã (da Diocese de Lisboa) decorreu em 27 de Setembro de 2014, em Torres Vedras,

Grupo familiar

Os elementos do Grupo, todos familiares do herói do texto, José Lopes, são: netos, sobrinho, cunhado e filha.

  • César Almeida Ferreira — Música, arranjos, e guitarra, filho e neto de pessoas nascidas na Paramuna
  • José Ferreira — Ferrinhos, uma das pessoas mais idosa a ter nascido na Quinta da Paramuna
  • Rafael Lopes Baptista — Reco-reco e acordeão, neto
  • Rui Lopes Rodrigues — Voz, neto e filho da última pessoa a nascer na Quinta da Paramuna
  • Mariana Lopes Baptista — Orgão, neta
  • Maria Alina Almeida Lopes Baptista — Coro, filha, agente da boa vontade

Vídeo da homenagem

  • 00:36 — Texto de Elvira Carneiro
  • 04:13 — Canção “Quinta da Paramuna”
  • 06:15 — Canção “Amiais Beira Alta”
  • 09:15 — Canção “São Francisco dos Amiais”
  • 11:54 — História da Homenagem aos Amiais
  • 13:22 — Canção “Povoação dos Amiais”

Sobre a Quinta da Paramuna

A Quinta da Paramuna, situa-se no local da antiga “Cidade da Muna”, segundo reza a lenda que o meu pai me contava. No presente restam apenas ruínas e memórias. A Quinta está localizada no sopé da Serra da Paramuna. Mesmo lá no cimo do nosso lado esquerdo, está o Castro da Paramuna, onde se encontra o Talegre (marco geodésico). A meio da encosta, num declive muito acentuado, do lado direito está o famoso Penedo do Diabo.

A última casa a ser construída no local, foi a casa onde vivi, até aos meus 12 anos. Esta, foi construída pelos meus bisavós, pais da minha avó Adelaide. Foi aí que nasceu minha mãe em 1919 e os seus quatro irmãos. Foi aí, que no dia 10 de Março de 1964, nasce a minha irmã a Miquelina, a última criança a nascer na Quinta da Paramuna. A Quinta é abandonada em 1971, com a mudança da família para os Amiais.

Agradecimentos

Quero agradecer a todas as pessoas fabulosas, que de alguma forma ajudaram a que este trabalho fosse possível.

Estou imensamente grata a todos, para lá do que as palavras possam exprimir. Isto porque:

  1. Acredito que este trabalho nos tenha ajudado a recuperar o passado e a perspectivar o futuro;
  2. A Quinta da Paramuna é a minha “casa”, o lugar de todas as minhas recordações enquanto menina e moça;
  3. E ainda porque o “herói” do texto é o meu pai.

Os meus agradecimentos:

  • À Tuna Realense pela minha ida ao Festival da Abóbora em Real, sem a qual, o texto continuaria guardado no fundo da gaveta;
  • À Elvira Carneiro pela confiança que em mim depositou;
  • Ao Fabião Coutinho, pela linda letra que criou, servindo de inspiração às outras que se seguiram;
  • Ao César Ferreira, o responsável pelas músicas e letras. A sua ajuda e apoio foi inestimável, este trabalho, não poderia ter sido feito sem ele.
  • Ao Rui Rodrigues, que deu a sua voz, embora este trabalho não fosse a sua onda;
  • À Mariana Baptista, que no meio de todos os seus afazeres, arranjou tempo para tocar as músicas;
  • Ao Rafael Baptista e José Ferreira, sem os quais o Grupo Rafael e Companhia não existiria;
  • Aos mordomos da festa que apadrinharam a ideia e souberam adaptar-se às exigências dos artistas: Elias Almeida Ferreira, Serafim Jorge Rodrigues, Victor Jorge Carvalho Lopes, Luís Neves;
  • Ao Joaquim Baptista, pelas lindas fotos, reportagem e pela paciência e ajuda nos momentos mais críticos.

Por fim, agradeço ao povo dos Amiais de todos os tempos, aos que já partiram, aos presentes e aos que hão-de vir, aos presentes e aos ausentes em qualquer lugar.

P'ra toda a gente da terra aos ausentes, e aos que estão,
Que chegue a todo o lado meu abraço apertado do fundo do coração.
— in Povoação dos Amiais, de Fabião Coutinho, 2017-03-01

Série

Este artigo é a parte 4 de uma série:

  1. Grupo Musical 3G Music nos Amiais
  2. Procissão nos Amiais
  3. Cantar a Quinta da Paramuna
  4. Uma Homenagem ao Povo dos Amiais e Quinta da Paramuna

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