
Quatro anos depois, o Circo Nómada volta à Póvoa de Santa Iria. Constato que o espectáculo que fotografei em 2010 me deixou boas memórias. Na altura, troquei algumas palavras com os artistas e teci considerações sobre o possível futuro dos pequenos circos. Por isso, volto a este circo com imensa curiosidade de ver como é que evoluiu, como é que se vai safando nestes tempos.
O palhaço é o rei do circo
Encontro o mesmo núcleo de cinco artistas, reforçado com uma palhaça (Chicha) e outra artista. Os funcionários mudaram. Os números também são diferentes dos de 2010. Também voltou a ter animais: pombas! Mais um touro de pano animado por dois humanos...
“O palhaço é o rei do circo” — Paulo Mariz (apresentador e dono), durante o espectáculo.
Uma das coisas que as fotografias digitais fazem bem é tomar nota da hora a que foram tiradas. Consigo, portanto, apurar que metade do tempo do espectáculo é passado com palhaços, rábulas ou figuras. Este é claramente um circo de palhaços, contrastando fortemente com outros circos onde os palhaços aparecem apenas num único número final, por vezes pobre e com pouca imaginação, que sabe a pouco.
Primeira visita, à tarde
O circo já tinha a tenda montada no fim-de-semana de 29 de Março, mas não vimos publicidade a anunciar as datas dos espectáculos. Creio que nesse fim-de-semana já houve espectáculos, mas acabei por só ir no Sábado seguinte, com a Aline e com o Rafael.
Pela primeira vez num circo, decidi pagar um pouco mais para me sentar numa frisa, bem perto da pista, e conseguir tirar melhores fotografias. Reparo que um dos espectadores traz uma câmara de filmar de aspecto profissional, mas senta-se nas bancadas.
Antes do início do espectáculo, uma criança “não tão pequena” na frisa ao lado atira um pacote de doces cilíndrico bem para o meio da pista, onde claramente será um perigo para os artistas. Hesito se devo resolver o problema e ir buscar o pacote, mas estaria a invadir a pista. Mas já não deve ser a primeira vez que acontece uma coisa destas. Um funcionário (Ricardo) apanha o pacote, sai da pista, dá a volta por detrás das cadeiras, e com uma pequena conversa devolve o pacote ao pai da criança, que fica visivelmente embaraçado. Há sabedoria na forma como o funcionário lidou com a questão, e a criança não voltará a atirar nada para a pista.
Avisam que não se pode fotografar nem filmar, o que não me lembro de terem feito em 2010. Suspeito que seja para evitar as luzes de flash. Resolvo esclarecer a situação com o funcionário (Fábio) que está à entrada da tenda, notando que já fotografei e publiquei fotos do circo. O funcionário não consegue responder imediatamente, tem que perguntar ao dono do circo. Mas já não há tempo, pois o espectáculo está quase a começar. Respondo que vou fotografar sem flash (nem sequer o levei), mas que não sairei do circo sem esclarecer a questão.
Primeira parte
Durante a primeira parte, uma máquina de nevoeiro combina-se com luzes fortes e coloridas para criar ambientes fortes para as acrobacias. Em compensação, as rábulas e palhaços têm uma luz mais forte e mais simples.
- A abertura do espectáculo é uma espécie de dança em que vários personagens vão entrado em cena e interagindo uns com os outros, com a iluminação e a música a terem um papel importante (Paulo, Xenia, Diana, Jessica).
- Logo a seguir, um número com pombas. Já não se pode dizer que seja um circo sem animais (Sandra, Paulo).
- O apresentador e uma palhaça interagem com os espectadores. Depois, a palhaça chama uma criança à pista, que põe a saltar à corda (Aida, Paulo, espectador).
- Uma jovem faz um número de arcos, sozinha. Em 2010 era ainda uma criança, e fazia um número semelhante acompanhada por uma adulta (Xenia, Paulo).
- Uma acrobata faz um número em altura com uma rede (Diana).
- O apresentador e um mimo fazem uma longa rábula de toureio, que não ficaria descabida numa revista à portuguesa. Bastava acrescentar um fado, pois já tem a obrigatória piada homosexual (Edy, Paulo, touro).
- Breve aparição de duas figuras, o Pateta e a Kitty, que cumprimentam individualmente todos os espectadores das frisas. As crianças pequenas ficam maravilhadas.
- Um homem máscara mais a palhaça simulam um número de magia com um espectador (Edy, Aida, espectador).
A primeira parte acaba com a Aida e o Edy a perderem as calças, sendo corridos a pontapé da pista pelo Paulo.
Intervalo
Ao intervalo, tentam vender uma espécie de orelhas luminosas. Um bar dentro da tenda vende algodão doce, pipocas e algumas bebidas.
Também colocam uma arca aberta na pista com brinquedos, e uma das artistas/funcionárias vende rifas entre os espectadores. Eu não sou muito de jogos de sorte, mas pelo menos um dos espectadores comprou dezenas de rifas!
Aproveito o intervalo para falar brevemente com o dono do circo, que dá a autorização para publicar as fotografias.
Segunda parte
No início da segunda parte, a máquina de nevoeiro combina-se com luz LASER e fatos florescentes.
- Na escuridão, luz negra mais um LASER reagem com roupas fluorescentes para realçar um número de manipulação de cubos e bastões florescentes (Diana, Edy, Jessica).
- A palhaça Chicha faz uma breve aparição, atira pipocas aos espectadores (Aida).
- Uma acrobata interage com uma Lua, com iluminação LASER e foco de luz (Sandra, com assistência da Jessica).
- Longa rábula do homem bala (Edy, Paulo, Diana).
- Despedida final, com todos os artistas em pista.
- O apresentador é o último a deixar a pista, levando uma mala que trouxe no início do espectáculo.
No fim do espectáculo, sorteiam uma das rifas vendidas, e a criança vencedora vai à arca escolher um dos brinquedos, enquanto o resto dos espectadores abandona a tenda.
No fim do espectáculo, vejo o dono da máquina de filmar a falar também com o dono do circo. Não sei o que combinaram, mas pelo menos não consegui encontrar os filmes no YouTube.
Quando saio da tenda, encontro a Aline a conversar com uma das artistas de circo (Diana Ferreira), que nos reconheceu. Elogia as fotografias de 2010, convida-me a voltar, a fotografar melhor. Diz que o espectáculo à noite é melhor, por causa da luz.
Segunda visita
Volto à noite com o Rafael, que adorou o espectáculo à tarde. Há muito mais espectadores, e chega a formar-se uma fila para comprar bilhetes. Deixo os espectadores entrar, fico de pé à entrada da tenda, junto dos funcionários. Espantam-se que os fotografe, não parecem pensar neles próprios como parte do espectáculo.
Em conversa com os funcionários, apercebo-me pela primeira vez da responsabilidade que têm em orientar e controlar os espectadores, resolvendo pequenos problemas durante o espectáculo. A responsabilidade é particularmente grande quando o circo enche, normalmente no Natal, quando montam mais bancadas. Descubro também que um deles (Bruno), sentado no canto de uma bancada, controla discretamente o foco de luz.
Durante o intervalo, os funcionários têm que ajudar e controlar os espectadores que saem para fumar, ou para procurar uma casa de banho.
A certa altura, torno-me eu próprio um funcionário acidental quando ajudo um avô a encontrar uma casa de banho para a pequena neta.
Apercebo-me de pequenas diferenças no espectáculo da noite em relação ao da tarde. Por exemplo, o apresentador resolve saltar à corda. Agora que já vi o espectáculo, dou mais atenção ao público. Quando a palhaça interage com o público, os risos das muitas crianças são mágicos, e o sorriso dela alarga-se um pouco com cada risada.
Depois do espectáculo
Fui convidado a fotografar os bastidores, o que não fiz por falta de tempo. Mas hesito em quebrar a magia. Será que os artistas de circo querem mostrar o seu lado de pessoas comuns?
Mas o circo tem Facebook, e através dele posso espreitar as pessoas por detrás das máscaras, desvendar um pouco as relações familiares. É mesmo uma família, ou pelo menos várias famílias entrelaçadas. Vejo fotos “normais”, no restaurante, na piscina, na caravana.
Mas vejo também cartazes do circo com uma “máquina de sonhos” que não vimos, e fico com pena de não a ter visto. Exactamente quanta variedade existe de espectáculo para espectáculo?
Fotografia
Tirei 1058 fotos com as objectivas nocturnas, 50mm f/1.4 USM e 85mm f/1.8 USM. Dois terços das fotos foram tiradas no segundo espectáculo, confirmando a razão de ser do convite da Diana. Escolhi 224 fotos para os artistas, mas publico apenas 84, as suficientes para contar a história.
A máquina baralhou frequentemente a medição de luz, devido à variedade de luz, frequentemente monocromática, combinada com o foco de luz. Nos números com menos luz no início da segunda parte, acabei a fotografar em modo manual a ISO 6400.
Como já não estive na primeira fila à noite, as fotografias apanham frequentemente silhuetas de cabeças de espectadores, mas até gosto do efeito de moldura.
Artistas e ligações
Artistas do Circo Nómada, telefone 962 596 075:
- Paulo Mariz
- Sandra Mariz
- Edy Mariz
- Xenia Mariz
- Aida Cardinali (Chicha)
- Diana Ferreira
- Jessica Dallot Pedrosa.
Funcionários:
- Carlos Pedro Canhão
- Fábio Canhão
- Bruno
- Ricardo.