Caminho dos Galegos

Fui visitar a família a Pousadas. Falaram de uma caminhada medieval no dia seguinte, incluindo no largo de Pousadas. No Domingo de manhã, como não ouviam os cães a ladrar, achavam que ainda não se passava nada. Peguei na máquina com a zoom 25-105mm e fui ver.

Ciganas em Pousadas

Encontrei um pequeno grupo, três mulheres e 7 crianças, em trajes coloridos da época, à espera dos “peregrinos”. E eu era o primeiro peregrino a chegar. A mulher mais velha, vestida de cigana exuberante, desafiou-me, em espanhol, a ler a sina na palma da mão, e levou-me para dentro da tenda onde estavam as duas “chicas” que, felizmente, falaram em Português. Soube depois que a “cigana espanhola” era Elisabete Gueirão, professora de Espanhol.

A “chica” lá inventou umas balelas sobre as linhas da minha mão, que enunciou de forma convincente. No fim, deu-me um “recuerdo”, uma tira de papel com os nomes das videntes, Yasmine e Jaciara.

Fiquei por ali, enquanto os miúdos se divertiam a lutar com paus almofadados. Outro miúdo tinha a tarefa de ler um poema a duas donzelas, que o escutavam embevecidas. A professora estragava o quadro ao insistir na dicção correcta (não são môlhos, são mólhos!).

Entretanto começaram a chegar grupos de caminhantes. Infelizmente para o grupo de actores, grandes e pequenos, a maioria dos caminhantes parecia mais interessado em chegar ao fim da caminhada do que em apreciar o caminho. A professora bem tentava desviar peregrinos para a leitura da sina, mas poucos paravam.

Assisti também ao obrigatório cliché dos tempos modernos: uma mulher caminhava a falar para o telemóvel, ignorando tudo à sua volta, de forma que entrou na zona de combates dos miúdos. Obviamente, ia levando com uma paulada.

No próximo ano, sugiro ao grupo que se organize: os combatentes podem fazer uma barreira, parar os caminhantes, e ameaçar “a bolsa ou a sina!”

Quando estava a sair do largo, reparei que a capela estava aberta. Acho que nunca tinha visto esta capela aberta. A senhora que guardava a capela entrou comigo e enumerou os santos. Encontrei uma decoração cuidada, com madeira pintada a imitar mármore, como nas igrejas de Tavira.

Segui os peregrinos até ao rio, pensando que teria fotos curiosas de montes de pessoal a saltar as pedras que permitem atravessar o rio. Batota! Tinham construído uma ponte temporária ao lado das pedras. Mesmo assim, pelo menos um adulto e uma criança não resistiram ao apelo das pedras.

Pelo caminho, cruzei-me com grupos de novos e velhos, sem esquecer um grupo de mulheres tagarelas a discutir o desempenho sexual dos respectivos maridos. Os mais organizados eram, de longe, os grupos de escuteiros, que caminhavam de forma quase militar. E também alguém com mais idade, preocupado com os declives, procurando os atalhos que tinha tomado em anos anteriores.

Feira Medieval em Mareco

Sabia que tinha família em Mareco: o Ricardo, o João e a Carla. Havia imensos carros parados pela estrada. Como só íamos estar pouco tempo, deixei o carro parado em segunda fila, a tapar um único carro cujo risco de querer sair parecia menor. Nunca estive a mais de 100m do carro, mas felizmente não incomodei ninguém.

O largo de Mareco estava rodeado de bancas, algumas a vender artesanato local, incluindo o Ricardo a vender os seus candeeiros e suportes de velas.

Ao lado, um sapateiro expõe chinelos, incluindo uns com a bandeira de Portugal adoptada em 1911. Teria sido mais apropriado usar uma bandeira um pouco mais medieval...

O João estava na Tasca do Ti Joaquim, vendendo bebidas, pão, chouriço e café feito à fogueira numa panela de ferro.

Ao fundo do largo, estava uma burra presa à sombra de uma árvore. É uma visão rara nestes tempos. Segundo o dono, já há poucos burros, e estão caros. Há dois anos, a burra já custou €400.

Atrás do largo, há mesas debaixo de um grande toldo, e pelo menos três porcos a assar.

A presença constante dos telemóveis quebra a magia dos trajes medievais. Assim como o berrante pacote de sumo do Continente na Tasca do Ti Joaquim.

Reflexão

Toda esta iniciativa parece um círculo virtuoso entre o Município (que criou os percursos pedestres) e o Agrupamento de Escolas (que os promove e divulga). E a iniciativa ressoou entre alunos, professores, pais, escuteiros, habitantes, e mesmo Juntas de Freguesia. Pelo menos os alunos divertiram-se em Pousadas, e espantou-me a forma como as pessoas trajadas estavam cientes do seu papel, e cientes também do seu passado. É a nossa “província” a chegar ao século XXI.

Fotografia

Como esta reportagem acabou por ser acidental, fotografei apenas com a zoom 24-105mm, mais flexível, evitando mudar de lentes no meio da poeira. Enviei 50 fotografias à professora Elisabete Gueirão, mas publico apenas 39. Se algum dos fotografados quiser a sua foto, basta pedi-la para pxquim@gmail.com.

Anúncio: X Percurso Pedestre Histórico-Cultural “Caminho dos Galegos”

O Agrupamento de Escolas de Penalva do Castelo encontra-se a promover, com a colaboração da Câmara Municipal de Penalva do Castelo, o apoio da Junta de Freguesia de Castelo de Penalva, da União das freguesias de Mareco e Vila Cova do Covelo e da União das freguesias de Tavares (Travanca, Chãs e Várzea), a realização do X PERCURSO PEDESTRE HISTÓRICO-CULTURAL “CAMINHO DOS GALEGOS”, no próximo dia 1 de junho de 2014.

Trata-se de uma atividade de pedestrianismo, numa extensão de cerca de 8 km, aberta à participação de todos os interessados, nomeadamente dos que apreciam o prazer proporcionado por uma caminhada e pela observação de belezas naturais, num percurso devidamente arranjado e sinalizado, em terras de Penalva (no mesmo concelho) e de Tavares (concelho de Mangualde). O percurso é circular, inicia-se no Largo Principal de Mareco e termina no mesmo local.

Para além da componente turístico-desportiva de ar livre, irão ser representados, por alunos, professores e funcionários, alguns quadros históricos que irão fazer recuar os participantes ao tempo das peregrinações a Santiago de Compostela. Alguns quadros históricos representados são, por exemplo, a Bênção de um Peregrino, o Hospital do Caminho, a Guarda da Ponte (portagem), a Taberna Medieval, os Salteadores, as Videntes... Ao longo do caminho, encontram-se também o Almocreve, o Mendigo pedindo a sua esmola, Artistas com músicas melodiosas, Bobos da Corte e ainda uma pequena Feira com a venda de alguns produtos de artesanato. Haverá ainda almoço, brinde e animação.

A concentração dos participantes ocorrerá pelas 9h00, no Largo Principal de Mareco. O “Caminho dos Galegos” está sinalizado a partir do centro da Vila de Penalva do Castelo.

Os interessados deverão inscrever-se para o nº 232 640 080 (telefone da Escola-sede) até 27 de maio. As inscrições são limitadas a 500 participantes. Os maiores de 11 anos pagarão €6,00 com almoço (€8,50 após 27 de maio) / €4,00 sem almoço (€6,50 após 27 de maio).

Venha até Mareco, percorra o “Caminho dos Galegos”, recorde a Rota de Santiago e aprecie a beleza das paisagens no coração do Dão!

Os Coordenadores do Projeto: Professores Elizabeth Cancelas e Francisco Guedes

Referência

Rede de Percursos Culturais de Penalva do Castelo
Brochura (22 páginas, 8,7MB) com a rede de percursos pedestres. Cópia local.
Desdobrável do Caminho dos Galegos
Versão anterior do percurso pedestre. Cópia local.
Anúncio na Junta de Freguesia de Mareco
Página de onde retirei o texto do anúncio da caminhada, e que também tem uma versão reduzida do cartaz.

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