
O contacto com a Tuna Realense começou na Festa de Germil. As fotos que tirei e partilhei com a Tuna originaram uma conversa com a Aline que culminou num convite para participarmos no 2º Festival da Abóbora. Foi assim que o Grupo de Música Nova Geração e o Grupo do CPCD viajaram até ao Parque da Bocha em Real, a cerca de 300 Km da Póvoa de Santa Iria.
Nós vamos no dia anterior, para visitar familiares em Pousadas e nos Amiais, duas aldeias próximas. Aproveito para conhecer o recinto da festa. Para fotografar eventos, é importante saber o que vai acontecer em cada espaço.
Numa das pontas de Real, um caminho poeirento e íngreme leva a um pequeno planalto. No planalto existe um campo de futebol, uma casa de apoio, uma fila de barraquinhas e um palco ao fundo. Um trator suporta a montagem do palco. Vários organizadores da festa tentam cobrir o palco com oleados plásticos, atando tudo com cordéis de aspecto frágil e cansado. Em conversa, todos parecem ter um longo envolvimento com a sua Associação.
Existe uma estranha estrutura de troncos altos sobre o largo da festa. Num ano anterior, estenderam oleados sobre a estrutura para criar sombra, mas o vento estragou a ideia. Sugiro que resolvam o problema como os romanos fizeram, e peçam ajuda a marinheiros com prática de vela.
Combinamos pormenores para o dia seguinte: o encontro será no meio da aldeia, no café Rio Ludares, de onde partiremos para o local do almoço. Teremos que ir de carro. Depois iremos para o recinto da festa.
No dia seguinte chegamos mais cedo a Real, com a intenção de visitar a aldeia. Paramos no largo do café, e seguimos as placas em direcção à ponte do Rio Ludares. Um monte de restos de estrada alcatroada em frente à Junta de Freguesia testemunha os trabalhos realizados. Mais adiante, um magnífico campo de abóboras vermelhas.
A ponte faz parte do Trilho do Ryal e tem uma folha explicativa:
A Ponte da Baralha sobre o Rio Ludares foi construída em 1866 pela Câmara Municipal, conforme consta na cartela a meio da guarda lateral. Esta ponte substituiu outra de pau que é referida na Memória Paroquial de 1758.
Entretanto o telefone toca. Começam a chegar carros de Lisboa. Apressamo-nos de volta ao largo, onde encontramos as duas carrinhas do CPCD e os dois carros de pais de alunos do grupo Nova Geração. O primeiro comentário que ouvimos são elogios à casa de banho pública da aldeia, limpa e com papel higiénico.
Entramos todos para o café onde os organizadores oferecem um aperitivo.
Conversamos, enquanto a mesa de matraquilhos recebe um animado confronto.
Pouco depois, saímos para visitar o forno comunitário e o pelourinho da aldeia. Pela aldeia, provavelmente por casa do Trilho do Ryal, há mais painéis explicativos. No forno, duas mulheres cozem pão que há-de ser vendido na feira. E trocam-se memórias de pães antigos, mas também de como se consegue cozer pão no forno em plena cidade.
Voltamos aos carros para ir até à Quinta da Carvalha. É um salão de casamentos e baptizados, com fama local. Serviu a comida no baptizado dos meus filhos, e serviu o copo de água no casamento de uma sobrinha.
Um dos elementos do CPCD faz anos, e tira uma foto no relvado com a mulher. Depois, os dois grupos aproveitam para tirar fotos no relvado.
Quando entramos encontro o salão de que me lembro, mas pintado com alegres tons de verde e roxo. O grupo separa-se pelas mesas. Há duas mesas com músicos do CPCD, outra com músicos da Nova Geração, outra com pais de músicos, outra com os políticos locais. É a primeira vez que o grupo Nova Geração almoça em conjunto. Os elementos da Tuna Realense estão espalhados pelas mesas.
Há elementos da Tuna Realense em cada mesa. Conversam mas também servem como empregados de mesa, como forma de baixar os custos do almoço.
Chega a sopa e depois o prato principal. O arroz com feijão e couves está excelente. São vegetais sem frigorífico nem transporte em contentor. As sobremesas são servidas numa mesa à parte. São frutas e sobremesas simples, mas com uma apresentação elaborada. No fim dos cafés, houve palmas para a cozinheira.
O dono da Quinta da Carvalha almoça connosco. Diz que o almoço ficará em conta porque são os elementos da Tuna Realense que estão a servir cada mesa. Pergunto se os ingredientes são locais, e o dono diz que nunca precisou de comprar batatas. Ganhou muito dinheiro a criar gado para o seu próprio restaurante, mas as exigências aumentaram até decidir matar o gado e vender a maquinaria. A ASAE já visitou várias vezes o restaurante. Uma vez vieram três inspectores de Coimbra, entraram para ver a cozinha, mas não quiseram perturbar o serviço do restaurante. Ficaram para almoçar e fizeram questão de pagar.
Entretanto, conversamos com o elemento da Tuna à nossa mesa. Está prometido que a Tuna Realense irá visitar o CPCD, mas este almoço ultrapassa em muito o que o CPCD costuma conseguir fazer. Normalmente oferecem apenas um lanche. Descobrimos que os elementos da Tuna têm sido recebidos de diferentes formas, nem todas muito boas, mas que querem mesmo ir a Lisboa. No entanto, o CPCD tem espaços capazes de acomodar um grupo grande. Por exemplo, o Karaté grelhou carne para um almoço de grupo de 40 pessoas que ficou muito em conta.
Saímos para o Parque da Bocha. Uma pick-up leva três jovens na caixa aberta, com sorrisos de orelha-a-orelha.
Enquanto almoçávamos, o festival já tinha começado oficialmente às 13h00 com o almoço convívio (chanfana) servido no bar do Parque da Bocha, da responsabilidade da secção de desporto da Associação.
No parque, a maioria dos expositores já montou a sua banca. Os músicos demoram tempo a montar os instrumentos em palco, a ligar cabos e a experimentar o som, com a ajuda de elementos da Tuna. Aproveito para subir ao palco e fotografar os músicos de perto. Como o palco está à sombra mas não tem fundo, tiro muitas fotos em contraluz.
Quando está tudo pronto, começam os discursos da praxe. Oferecem produtos locais aos grupos (vinho, queijo e pão de azeite) mais uma boneca artesanal. Fala o Presidente da Câmara de Penalva do Castelo (Francisco Carvalho) e do Presidente da Junta de Freguesia de Real (Pedro Pina Nóbrega).
A música começa, mas o som deixa muito a desejar, com altos e baixos inexplicáveis. Cada nota mais forte do baixo diminui o som dos restantes instrumentos durante o segundo seguinte. Suspeito que a corrente eléctrica que vem de uma casa a alguma distância não é suficiente para suster os sons mais altos.
Durante a tarde, fotografo os três grupos, os expositores e o concurso de abóboras (que publico em galerias à parte; ver o fim do artigo), mas também o ambiente no recinto. Pela primeira vez há pessoas a dançar ao som do grupo Nova Geração. Dançam também com o grupo do CPCD, e fazem um combóio e uma roda quando a Tuna Realense toca o hino de Real.
Segundo a Aline, o hino de Real é igual ao hino dos Amiais, com pequenas adaptações da letra. Em resposta, Paulo Martins da Tuna Realense diz que o refrão parece ser comum a muitas localidades, incluindo pelo menos Sezures e Freixiosa. Mas crê que o poema terá sido composto por um Realense para o rancho da terra apresentar quando da inauguração do hospital da Misericórdia de Penalva do Castelo, nos anos 50 do século passado.
Tradição é fazer coisas novas que depois parecem ter existido desde sempre.
Observo o o concurso de abóboras, os expositores locais, os músicos e o bar, e é como se o Campo da Bocha tivesse assistido a este Festival da Abóbora desde tempos imemoriais. Sinto que estou a assistir ao nascimento de uma nova tradição. Às vezes as coisas têm de mudar para ficarem na mesma.
Fotografia
Tirei cerca de 700 fotos, alternando entre as duas lentes zoom f/4. A luz melhorou ao longo da tarde. As melhores fotos de abóboras foram as últimas, e as fotos da Tuna Realense ficaram bastante melhores que as dos primeiros dois grupos. Desta vez, decidi publicar também os retratos do público, embora tenha fotografado principalmente familiares.
Publico galerias separadas para as várias partes do festival:
- Banda da Escola de Música Nova Geração
- Grupo de Música do CPCD
- Tuna Realense
- Concurso de abóboras
- Expositores
Referência
- Cartaz do 2º Festival da Abóbora de Real
- Cópia local do cartaz (JPEG, 951 KB).
- Tuna Realense
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Tuna da ACRSR, Associação Cultural Recreativa e Social de Real.
- Rua da Igreja 8 — 3550-271 Real — Penalva do Castelo
- 232 643 231 — realassociacao@sapo.pt — Facebook
- Trilho do Ryal
- Percurso pelas encostas e vale da freguesia de Real, passando pelas povoações de Real e da Ribeira. O PR 5 PCT é um percurso de pequena rota, marcado nos dois sentidos segundo as normas da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal.
- Quinta da Carvalha
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Serviço de catering. Casamentos, baptizados e banquetes. Salão próprio com capacidade de 250 pessoas e serviço ao domicílio.
- Rua da Carvalha 13 — 3550-271 Real — Penalva do Castelo
- 969 019 608 — 966 459 427 — 963 891 366 — 964 647 508 — quintacarvalha@gmail.com