Depois de conhecermos o festival da abóbora em Real, ficámos curiosos sobre o festival da abóbora no Oeste. O festival é no Pavilhão Multiusos de Atalaia, a poucos quilómetros da Lourinhã. A primeira dificuldade é estacionar. A única alternativa parece ser a própria rua principal de Atalaia.

O espaço do pavilhão está aumentado com várias tendas que cobrem a rua entre o pavilhão e a igreja. À entrada do espaço, e depois do pavilhão, está a mascote do festival: um manequim de cabeça de abóbora vestido com uma calças jardineiras. A mascote é também usada no site e em parte dos cartazes.

Também à entrada está uma das atracções do festival: uma abóbora gigante com 806 Kg, trazida em tournée pelo Crédito Agrícola local. Tem cerca de um metro de diâmetro, e provoca a admiração de quem passa. Ao lado está um esqueleto de dinossauro recriado com pequenas abóboras, lembrando aos visitantes a outra unicidade local.

Entrando no pavilhão propriamente dito, as abóboras em competição estão espalhadas sobre fardos de palha, organizadas por produtor. Encontro uma abóbora com 77 Kg, mas não sei se é a mais pesada. Aliás, nem sequer consigo perceber quais são as categorias do concurso.

Ainda dentro do pavilhão estão uma série de barraquinhas com doces e produtos regionais. Compro uma cerveja de abóbora a um produtor artesanal da Areia Branca com um vago sotaque alemão. As filhoses de abóbora estão muito gordurosas, mas as queijadas de abóbora são excelentes.

Ao longo da parede há duas zonas de serviço que venderam almoços, incluindo pizza de abóbora. Entre as duas zonas de serviço, uma seta aponta para as Jornadas Técnicas, atrás de uma porta fechada. É a primeira vez que ouço falar delas.

Um enorme miniatura de caravela chama a atenção. José Gomes da Atalaia exibe duas caravelas, um moinho, e várias miniaturas de carroças e máquinas do campo.

Fora do pavilhão, uma área parece protegida por pessoal de uniforme. Lá dentro decorre uma demonstração por um chefe de cozinha (anunciada pelos altifalantes), aparentemente paga à parte.

Na rua coberta entre o pavilhão e a igreja, há mais abóboras ao longo da parede, dispostas de forma regular. Não consigo perceber se são abóboras a concurso, ou meramente decorativas.

No largo da igreja, também coberto, estão as bancas de artesanato. Não é fácil circular entre as bancas. Apenas o artesão da “Feito d'Afectos” mostra a sua arte ao vivo: delicadamente, cola paus de espetada um a um para erguer a parede duma casa. Nem todos os produtos expostos parecem artesanato.

Noutra banca, o José e a Vera Fernandes vendem louça pintada, mas o que chama a atenção é a árvore transformada em candeeiro de abóboras. O José conta que foi inspirado pela forma da árvore. Depois, teve de procurar materiais flexíveis mas que segurassem os fios e as abóboras. Estava preocupado com o futuro do candeeiro, mas uma cliente comprou a árvore e resolveu-lhe o problema. Enquanto falamos, a Vera pinta a cara de uma menina, transformando a princesa em fada.

Á saída, reparo nos Bombeiros sentados ao lado da Rádio Clube da Lourinhã. E também nas animadoras da Associação Juvenil Toca a Mexer, que exploram um insuflável vestidas como abóboras.

A parede lateral da barraquinha dos insufláveis revela-se, a posteriori, a melhor fonte de informação sobre o festival. Tem um cartaz com o programa geral, mais um cartaz separado com o programa das “Jornadas Técnicas sobre a Cultura da Abóbora”. O site do evento é completamente omisso em relação a estas jornadas técnicas.

Real vs. Atalaia

É inevitável a comparação com o 2º Festival da Abóbora de Real.

Real tem um festival de aldeia encantada com as suas próprias abóboras:

• Planalto aberto e arejado, que contrasta com o espaço limitado da Atalaia, que chega a ser claustrofóbico na zona dos artesãos.
• Palco amplo, enquanto Atalaia se limita a roubar parte do chão do Pavilhão.
• Autenticidade dos artesãos, incluindo um artesão cujas peças não estavam à venda.

Atalaia tem um festival com a ambição dos produtores industriais:

• Espaço coberto resistente a intempéries, com infraestruturas de qualidade (água, luz, lavabos).
• Artesãos com oferta mais extensa e mais vendável.
• Organização da Junta de Freguesia com profissionais de comunicação e imagem.
• Semana gastronómica da abóbora em onze restaurantes da Freguesia.
• Concurso de doces, que levaram os doceiros a esmerar-se na criação de doces novos.
• Jornadas Técnicas focadas na produção, conservação e transformação da abóbora.
• Apoio financeiro do Crédito Agrícola da Lourinhã.
• Divulgação na Rádio Clube da Lourinhã.
• Ligação a festivais europeus de abóboras.

Mas Atalaia também tem os seus próprios problemas:

• A qualidade gráfica não esconde a ineficácia da comunicação.
• Jornadas Técnicas, aparentemente divulgadas apenas a nível da Freguesia.
• O regulamento do concurso não especifica as categorias a concurso. É possível que sejam as mesmas do ano anterior. Curiosamente, a organização reserva-se o direito de alterar as decisões do júri, nomeadamente se posteriormente detectar fraudes através de análises laboratoriais.
• Visitantes abordados por angariadores de seguros e pelo peditório da Liga Portuguesa contra o Cancro.
• Algumas das peças “artesanais” parecem mais adequadas à loja dos 300.

Referências

Festival da Abóbora da Lourinhã e Atalaia

Site do festival, aparentemente criado pela secção de comunicação e imagem da Junta de Freguesia. Infelizmente o site não é a referência definitiva que poderia ser.

Louricoop

Cooperativa de apoio e serviços, organizadora das jornadas técnicas.

Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste

Entidade formadora certificada, organizador das jornadas técnicas.

Le Zucche del Gallo Nero (em italiano)

Site pessoal de Stefano e Benedetta Cutrupi, produtores da abóbora gigante “Atlantic Giant” em exposição, premiada no festival de Ludwigsburgo. Contam como começaram a produzir abóboras gigantes, e creio que vendem as sementes das suas abóboras.

Festival de Abóboras de Ludwigsburgo (em alemão ou inglês)

Site do festival alemão e europeu da abóbora em Ludwigsburgo (Kürbisausstellung Ludwigsburg), com explicações legíveis em inglês. O festival é uma filial do parque de aventuras Jucker Farm. Este franchising inclui o conceito rent a festival que aluga exposições de abóbora a centros comerciais.

Feito d’Afetos (Facebook)

Casal de artesãos de Moita dos Ferreiros, que mostraram a sua arte ao vivo.