
Se existe artista que estava em falta eu ver ao vivo, é exactamente a Capicua (Ana Matos Fernandes). A oportunidade surgiu inesperadamente. Calhou a família estar no Porto na ponte do 25 de Abril, e vemos cartazes pelas ruas a anunciar o concerto gratuito na Avenida dos Aliados.
O rap está longe de ser o meu estilo favorito, mas admiro a inovação e gosto de ser surpreendido. Depois da música pop acéfala (mas dançável) é normal que haja uma revolta das letras. E a Capicua tem músicas que me fizeram parar para escutar na primeira vez que as ouvi na rádio. “A Mulher do Cacilheiro” captura um sentimento adulto dos subúrbios. Mas há 40 anos, teria sido um fado.
Chegámos suficientemente cedo, por isso consegui um lugar na segunda fila, bem perto do palco. Não levei todo o material fotográfico para o Porto, por isso a zoom que levei para o turismo teve que se fazer à noite. Não sendo ideal, deu para desenrascar.
Nunca tinha visto a Capicua (a rádio tem destas coisas), por isso fui surpreendido pelo corpo dela, diametralmente oposto aos corpos adolescentes da K-Pop que a minha filha tanto aprecia. Talvez seja preciso um corpo dos subúrbios para cantar as palavras dos subúrbios?
Mas a maior surpresa do espectáculo for o Vitor Ferreira, que ilustrou cada canção ao vivo, com um traço simples e expressivo conjugado com cores fortes. Foram traços hipnóticos que encantaram os olhos enquanto a Capicua encantava os ouvidos...
Infelizmente, a posição na segunda fila teve um custo inesperado: a meio do espectáculo, os meus filhos estavam saturados com o som. Vi-me forçado a abandonar o espectáculo antes do fim. Saí sem ouvir algumas das canções que conhecia, e sem ver o fogo de artifício.
Capicua com banda:
- Ana Matos “Capicua” Fernandes — voz
- Marta “M7” Bateira — voz de suporte
- Diego “D-One” Sousa — samples e scratch
- Johnny Virtus — programação e samples
- Ricardo Coelho — bateria
- Luis Montenegro — baixo, guitarra e sintetizador
- Sérgio Alves — teclado
- Vitor Ferreira — ilustração