Que professores queremos?

Em 1988 passei várias semanas em Leiria a dar aulas de informática em cursos financiados pelo Fundo Social Europeu. Havia uma pastelaria com música ambiente e servia de ponto de encontro a vários professores do liceu.

Uma das professoras que encontrei na pastelaria dava aulas de física e química. Como sabia pouco da matéria, lia o livro um pouco antes dos alunos.

Uma vez, contou-me como tinha ficado espantada ao ler que a luz viajava em linha recta. Teve que se convencer fazendo a experiência sugerida no livro, ou seja:

  1. Furar três cartões opacos.
  2. Colocar os três cartões no caminho de uma fonte luminosa, por exemplo, uma vela.
  3. Verificar que só se vê a luz da vela quando os buracos dos cartões estão alinhados.

Para mim, já era um espanto que um adulto não soubesse que a luz se propaga em linha recta. Mais espantado fiquei por esse mesmo adulto querer ensinar física!

Outra vez, contou-me a experiência do sódio. Em química, fazia-se uma experiência que consistia em embrulhar sódio numa prata de tabaco e deixá-lo cair num copo de água: o sódio arde violentamente em contacto com a água, de forma que saltita sobre a água dentro da sua prata. Lembro-me de ter assistido a essa experiência uns anos antes, como aluno.

Para se precaver, a nossa professora resolveu fazer a experiência sozinha antes de a fazer com os alunos. Nas palavras dela, cortou “uma pequena quantidade de sódio, do tamanho de uma moeda de 25 tostões”. Ora saiba o leitor que a quantidade certa seria de poucos milímetros cúbicos; portanto ela cortou uma quantidade de sódio talvez 100 vezes maior que o necessário... Assim que o sódio embrulhado tocou na água, gerou-se tal calor que o sódio saltou para a outra ponta da sala e partiu o vidro do infeliz armário que lá estava.

Compreendendo que tinha feito algo mal, embora sem saber o quê, a nossa professora resolveu livrar-se da prova do crime: de forma que deitou o sódio na sanita e puxou o autoclismo...

Resultado: o edifício foi evacuado durante o resto da manhã, até se dissiparem os vapores libertados!

Conclusões em forma de pergunta:

  • Quantos professores ainda existem neste país com habilitações semelhantes à "professora" desta história?
  • Quantos desses “professores” estão vinculados à função pública, tirando o lugar a professores qualificados?
  • Quantos desses “professores” insistem em candidatar-se ano após ano, quer consigam trabalho quer não, por serem incapazes de fazer seja o que for, incluindo ensinar?

Não sei do que precisa a educação neste país, mas sei que não precisa de professores assim!


(original no blogspot)

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