
Eu, que frequentei assiduamente a cinemateca portuguesa enquanto estudante universitário, tenho extrema dificuldade em levar os meus filhos adolescentes à cinemateca.
Considerando que eu trabalho e os meus filhos estudam, o horário semanal não existe. Às 15h30 estou a trabalhar mesmo que os meus filhos não estejam na escola; às 21h30 são horas de acalmar e dormir; às 19h00 o trânsito no centro de Lisboa impede quaisquer veleidades.
Sobra o fim-de-semana, ou seja, o Sábado. E é aqui que começam os verdadeiros problemas. A programação de Sábado é a “cinemateca júnior” ou a “história permanente do cinema”, o que exclui imediatamente a possibilidade de ver qualquer filme dos ciclos temáticos que celebrizaram a cinemateca. A própria lógica da série “história permanente do cinema” é tal que só raramente os filmes da tarde são apropriados para crianças.
Pior ainda, a cinemateca tem a infeliz tendência de fechar nos feriados, pontes e férias escolares. Este sábado, por exemplo, teria sido uma excelente oportunidade de ir à cinemateca... Mas a cinemateca resolveu fazer dupla ponte após os feriados de Quarta e Quinta, pelo que esta semana só houve sessões na Segunda e Terça.
Será assim tão grave que a minha filha não possa frequentar a cinemateca?
Com doze anos, a minha filha talvez já tenha visto mais filmes que eu, entre televisão com gravação em disco, vídeos, DVDs, raros filmes no cinema e raras sessões na cinemateca. Goste-se ou não, ela já tem uma cultura cinéfila que eu só adquiri em adulto. Por exemplo, há dias ao jantar um pires de azeitonas lembrava-lhe uma cena do Rio Bravo... Ignorando o inverosímil da associação, note-se o classicismo da referência.
Muito mais triste foi quando há cerca de um ano ela me perguntou se existe cinema português...
Reconheço o trabalho notável que a cinemateca tem feito e a liderança capaz de João Bénard da Costa, mas acuso-os de celebrar o passado e ignorar o futuro. Para as crianças e jovens actuais, o cinema já não é o objecto de culto visto na sala escura. É a companhia de todos os dias! Como é possível que a cinemateca não chame a si a missão de educar este jovem público?
Resta-me esperar que o continuador do legado de João Bénard da Costa aproveite o melhor do passado mas abrace o futuro.
Sugiro uma revisão da programação de fim-de-semana, incluindo quer a exibição de filmes ao Domingo quer a elaboração de ciclos especiais durante as férias escolares.
Por muito bom que seja o trabalho feito, há sempre espaço para fazer melhor. Haja vontade!
Imagem do filme “Stars in my crown” (1950) extraída do folheto de Junho 2009 da cinemateca, usada sem autorização.