
Após o espectáculo do Circo Nómada e a conversa que tive com os artistas, gostaria de tecer algumas considerações pessoais sobre o futuro do circo, mesmo sendo apenas um espectador.
Fotografei e assisti ao espectáculo do Circo Nómada na Póvoa de Santa
Iria. Perguntei a duas artistas à entrada do circo se podia fotografar.
Mal sabia eu na altura que tinha acabado de falar com metade do elenco
adulto do espectáculo! Quatro artistas adultos, uma criança e dois
ajudantes asseguraram hora e meia de entretenimento sem sobressaltos,
desmultiplicando-se em múltiplos papéis. De acordo com a nova lei
vigente, o Circo Nómada não tem animais.
No fim do espectáculo os artistas pediram-me as fotografias e
conversámos durante algum tempo. Queixaram-se da falta dos animais, que
atraíam as pessoas ao circo, e eu recordo a peregrinação de crianças em
2007 neste mesmo sítio a ver os animais da Circolândia e do Circo Chen.
Recordam como antigamente o circo era uma novidade na província, com as
mulheres do campo a perguntar como era Lisboa, coisa que a televisão e
as viagens fáceis resolveram. Aliás, hoje o circo concorre com a
programação da TV, especialmente quando há eventos especiais na TV.
Os circos sempre tiveram animais, mas isso implicava ter o custo de os
alimentar e transportar. Embora sejam uma atracção, a maioria dos
animais tem uma prestação limitada, em que a maioria só faz parte de um
número. E os magníficos documentários sobre a vida selvagem da BBC
permitem a todos ver os animais no seu ambiente natural, embora não ao
vivo.
O Circo Nómada está a experimentar outro ponto de equilíbrio: sem
animais, o espectáculo pode ser executado por um pequeno número de
artistas polivalentes, de uma forma que me lembra alguns dos
espectáculos de rua que vi em Tavira, especialmente os Circ Panic em
2007. Aliás, a principal diferença é a variedade de números
“tradicionais” do Circo Nómada, executados numa tenda com iluminação
cuidada... mas consigo facilmente imaginar qualquer dos dois casais do
Circo Nómada a apresentar um espectáculo digno de Tavira!
Embora os apresentadores fossem anunciando número atrás de número da
forma tradicional, simulando a entrada de artistas diferentes, acho que
poderiam ter feito exactamente o contrário, realçando a polivalência dos
artistas e a continuidade dos números. Aliás, as primeiras entradas em
palco do “mimo” fizeram-me lembrar um espectáculo que vi no Coliseu dos
Recreios com o famoso palhaço Oleg Popov,
que fazia um gag antes de cada número, nem que fosse um gag de dez
segundos, mantendo uma presença constante. Fiquei a pensar que a figura
do “mimo” poderia ser valorizada no espectáculo.
Mas voltemos aos animais que atraem pessoas ao circo. Há muitos anos, bastava o circo chegar à cidade para a notícia se espalhar. Podia-se observar os animais de borla, mas pagava-se o espectáculo para os ver actuar e para ver... os palhaços!
Acho que os palhaços atraem ainda mais as crianças que os animais, de
tal forma que a MacDonalds tem um palhaço à porta de cada loja. Mas o
Circo Nómada não tem um palhaço à entrada, nem há nada para ver de
borla.
Sugiro que um circo sem animais poderia executar um número de rua como chamariz para o espectáculo, que pode ser tão simples como mostrar os palhaços onde haja crianças. Por exemplo, talvez os palhaços possam distribuir os convites criança+adulto à porta das escolas e dos centros comerciais?
Seja como for, acredito que o Circo Nómada está no caminho certo, bebendo ideias no teatro e no espectáculo de rua para reinventar o pequeno circo nómada... e gostaria de acreditar que haverá sempre trabalho para os bons artistas.