
O encontro teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, organizado pela FPDA — Federação Portuguesa de Autismo.
Sendo uma "Sessão Comemorativa", partilharam-se experiências, ideias, momentos positivos, agradáveis e de sucesso.
Falou-se do caminho já percorrido e do muito que há para percorrer. Falou-se de legislação. Falou-se da importância de envolver a escola, os pais, a família e toda a comunidade.
Falou-se da importância da não cruzar os braços, no momento de crise que agora se vive.
Este é o momento de dar as mãos, criar laços, pensar novas formas de fazer, partilhar recursos, pensar novas oportunidades.
Os temas foram bastante abrangentes e diversificados. Falou-se da importância do diagnóstico, bem como do envelhecimento deste tipo de população e da necessidade de arranjar oportunidades de voluntariado, para que possam sentir-se úteis.
O Autismo dura toda a vida. Falamos nas crianças, mas esquecemo-nos que as crianças crescem e vão envelhecer. É importante incentivar a solidariedade intergeracional, os pais não podem baixar os braços.
Falou-se da importância da identificação precoce, bem como dos sintomas a que os pais, técnicos e pediatras deverão estar atentos para fazerem o despiste o mais cedo possível.
“Cada caso é um caso. Cada família tem necessidades diferentes. Os pediatras necessitam uma maior consciencialização e formação adequada. É necessária a integração da família e da criança/jovem. É necessária uma maior Educação Parental. Criar grupos de Autonomia.”
Falou-se do Direito à Educação e à Aprendizagem depois da Escola, da importância dos CRI (Centros de Recursos para a Inclusão) envolverem as escolas para que estes alunos façam as suas primeiras experiências em contexto escolar. Da necessidade dos técnicos se deslocarem às escolas, fazer a sensibilização dos Agrupamentos, sensibilizarem os professores, saberem das hipóteses dos alunos fazerem pequenas experiências dentro da própria escola. As escolas têm lá tudo, precisam-se ideias. A necessidade de fazer com que vários alunos usem os mesmos recursos.
Depois da Escolaridade Obrigatória — estamos todos à procura.
Falou-se da necessidade de “Dar as Mãos”, a família, o jovem, a escola e a comunidade.
A importância do PIT (Plano Individual de Trabalho), os professores e os técnicos devem partir do interesse do jovem e só depois ouvir a expectativa da família. É necessário focarmo-nos no depois da escola.
Os CAO (Centro de Actividades Ocupacionais), estão cheios é urgente repensar novas oportunidades. É necessário termos a humildade de pedir ajuda e não cruzar os braços.
A importância de envolver a comunidade onde nos encontramos inseridos, é ela que nos vai ajudar a encontrar a resposta para a nossa procura.
Hoje a escolaridade obrigatória vai até aos 18 anos
Aos 15 anos deveria fazer-se uma avaliação:
- Ocupação? Casa / CAO.
- Formação? Escola / CERCI / IEFP.
- Integração Profissional? Integração.
Como fazer essa avaliação a uma população tão indefesa? Os jovens deveriam poder experimentar várias tarefas, para saberem o que mais gostam.
Foram apresentados dois casos de sucesso do Agrupamento de Escolas de Santa Maria dos Olivais. Neste Agrupamento de escolas, com uma Unidade de ensino Estruturado, os alunos podem fazer várias experiências, entre outras, reprografia, informática e teatro.
É o caso de um jovem de 17 anos a trabalhar em serviços de lavandaria, e um outro jovem de 12? anos a frequentar o 2º ciclo, este apresentado pela própria mãe.
Segundo o testemunho desta mãe, o mais importante é não baixar os braços. Falou da importância dos serviços de Intervenção Precoce, da necessidade de rentabilizar recursos, da importância de trabalhar com as escolas, trabalhar com as instituições, trabalhar com as famílias, trabalhar com a comunidade, todos têm que ser envolvidos no processo.
Pareceu-me que esta mãe, bem como o avô do nosso jovem, foi uma das responsáveis, pela implementação da Unidade de Ensino Estruturado nos Olivais. Para tal, e antes mesmo da Unidade existir, a família em conjunto com a escola, recorrendo de todos os meios ao seu alcance, parcerias, donativos, mecenato e outros, criaram um espaço próprio para estes alunos melhor poderem desenvolver as suas capacidades.
Como forma de prevenção “e depois da escola?”, procuraram envolver toda a comunidade da zona de residência: restaurantes, mercearias, lavandarias, jardinagem, onde estes jovens podem fazer experiências por períodos de três meses para saber o que mais gostam. Todo este trabalho acabou por beneficiar o jovem de 17 anos que, depois de fazer várias experiências, está a fazer o que ele mais gosta, trabalhar em serviços de lavandaria. Como não lê mas entende, é acompanhado permanentemente por um caderno de comunicação.
No tema direito à educação ao logo da vida e ao emprego, estiveram presentes vários jovens universitários a contar as suas experiências. Um desses jovens falou da importância de ter tido alguém, “um padrinho” que o acompanhou e orientou durante o seu percurso universitário.
Esteve também presente um jovem de 21 anos, o Nuno, trabalhador da REPSOL, a contar da sua experiência de trabalho, bem como os seus horários e ritmos, e o quanto é importante para ele estar a trabalhar. Diz que gosta muito de trabalhar na Repsol e agradece.
De seguida falou um responsável da Repsol. Segundo o mesmo, em Espanha a Repsol tem uma política de empregar pessoas com deficiência. Em Portugal essa política ainda não existe. No entanto conhecendo os bons resultados dessa prática, decidiram permitir ao Nuno fazer um estágio de três meses num dos seus postos de serviço. O Nuno foi treinado para fazer um determinado número de tarefas, criaram uma rotina. Trabalhos simples e repetitivos, limpeza, repor artigos e outros. Neste momento o Nuno está já efectivo e todos, colegas e patrões, estão muito contentes com o seu trabalho e a sua presença. Por exemplo faz parte da rotina diária do Nuno, para que tudo corra bem, cerca de dez minutos de conversa com o seu responsável, o que não me pareceu que fosse problema para o mesmo.
Foi muito bom para mim, mãe de um jovem com deficiência, prestes a deixar a escola, ouvir com algum humor e de uma forma descontraída, as peripécias da adaptação do Nuno ao seu posto de seu trabalho, bem como a forma de resolver pequenos contratempos surgidos.
Penso que qualquer potencial empregador que estivesse presente ficou devidamente sensibilizado para o desafio de dar trabalho a alguém com deficiência.
Do tudo o que vi e ouvi pareceu-me que era isso mesmo “consciencialização e sensibilização” sobre o Autismo e a diferença. Mostrar o muito que já foi feito e do quanto falta fazer, como por exemplo a necessidade de se realizarem Acções de Sensibilização à comunidade escolar, Professores, Pessoal Auxiliar, Alunos, Pais, bem como à comunidade local.
Parafraseando o poeta : “Quando o Homem sonha a obra nasce”
Referências
- Programa
- Programa da sessão comemorativa “Os nossos direitos”, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian em 2 de Abril de 2012, entre as 9:30 e as 16:15.
- World autism awareness day
- Materiais de suporte à iniciativa a nível mundial, traduzidos em várias línguas, mas infelizmente não traduzidos para português.