Notas do workshop Escrita Criativa, Reportagem de #ABC — A Bloggers Conference

Workshop de Marta Fresco.

A Marta propõe uma abordagem criativa à escrita, para evitar pensar no que os outros vão pensar no assunto.

Vamos fazer exercícios com obstáculos, para nos obrigar a criar novos trilhos.

Após cada exercício, lemos os textos em voz alta para o grupo. Sem excepção, todos os participantes conseguiram escrever qualquer coisa razoável em cada exercício, frequentemente com resultados surpreendentes.

Após o último exercício, a Marta resume: Censor interno é o maior bloqueador. Ou não mostrar textos a ninguém quando não se tem a certeza.

Os exercícios atingiram o objectivo de me fazer escrever "qualquer coisa" e de o ler publicamente. Fizeram-me lembrar situações ou dúvidas recentes, que depois explorei na resposta ao exercício. Mas não sei se ajudariam a escrever sobre um tema em particular, a atingir um objectivo específico, especialmente se for um tema técnico.

Participantes

Sete participantes. Um dos participantes já tinha feito um workshop de escrita criativa, na Companhia do Eu. Outra participante conhecia a Mariana da paragem do autocarro. Creio que o blog dela será o JustBecause.

Exercício 1, explorar um tema

Este exercício parece adequado para escolher uma forma de abordar um dado tema.

  1. Escrever 16 frases sobre o tema, continuando quatro inícios de frase.
  2. Sublinhar a melhor frase de cada grupo.
  3. Escolher a melhor frase entre as quatro sublinhadas.
  4. Desenvolver a melhor frase, que é usada como início do texto.

Em particular, desenvolvemos o tema "blog" completando os seguintes inícios de frase:

  • Os blogues são...
  • Há blogues que...
  • Com blogues...
  • Quero que os blogues...

A minha melhor frase foi "há blogues que existem antes de existir a palavra blog", que escrevi a pensar nos sites macintouch.com (desde 1994) e TidBITS.com (desde 1990). O Scripting News do Dave Winer (e o software UserLand Frontier) são de 1997.

Para desenvolver a frase, explorei o meu receio recente em relação a Macintouch.com, que leio quase diariamente desde 1994 (no workshop, dei-lhe dez anos a mais, pensei que era desde 1984):

Há blogues que existem antes de existir a palavra blog. Ou pelo menos um: Macintouch, desde 1994. Não se chama um blog, não é escrito apenas por uma pessoa (o Ric Ford tem ajuda há alguns anos), mas é temporal, tem uma comunidade vibrante à volta, tem comentários e conversas com os leitores. E eu leio-o todos os dias (excepto em alguns dias de crise) desde 1994. Só não sei se o leio desde o primeiro dia.

Esta semana, alguma coisa aconteceu. As notícias não são publicadas pela mesma ordem. Estará alguém doente? Temo pelo meu site/blog favorito.

Exercício 2, texto com palavras arbitrárias

Este exercício parece servir para provar que se consegue escrever um texto coerente que mencione um conjunto arbitrário de coisas.

Dada uma série de postais engraçados:

  1. Escrever uma frase ou ideia sobre cada um.
  2. Sublinhar uma palavra sobre cada postal.
  3. Escrever um texto que inclua todas as palavras.

Para escrever o texto, usei a minha prática de escrita técnica: criei um grafo de associações entre as palavras, e depois percorri o grafo. Saiu uma frase compacta, embora talvez com pouco sentido (as palavras obrigatórias estão a negrito):

Fecho os olhos para fazer ó-ó, fecho a janela onde os meus sonhos trepam até à Lua, meto a imaginação num saco.

Exercício 3, objecto e acção

  1. Fazer duas listas, uma com cinco objectos, outra com cinco verbos.
  2. Escolher uma palavra de cada lista, de preferência uma combinação invulgar.
  3. Escrever um texto sobre essa combinação.

No meu caso, tinha que escrever sobre "máquina fotográfica" e "ouvir". Lembrei-me de um argumento que tinha tido com a Ângela Nobre sobre os filmes exigirem um tempo certo de quem os vê:

E se a máquina fotográfica ouvisse? Algumas já ouvem. Depois de tirar uma fotografia é possível gravar uma pequena anotação sonora.

Ou então, filmar, só que depois já não é uma máquina fotográfica, já não é um momento capturado, mas antes um tempo, que rouba a quem vê a liberdade de olhar. Uma foto, olha-se um segundo ou uma hora ou uma vida inteira. Mas um filme de dez minutos vê-se em dez minutos. Detesto filmes! Quero ser dono do meu olhar.

Exercício 4, contar uma história

Escrever uma história em que é dado o início, o meio e o fim:

  1. A luz era fraca.
  2. Hesitei.
  3. Talvez fosse, quem sabe.

Falei da minha experiência recente de fotografar com pouca luz num pavilhão:

A luz era fraca. Quer dizer, a luz no pavilhão é sempre fraca, mas ali, debaixo do balcão, quase não existia. A fiel 50mm, a minha arma contra a falta de luz, gemia enquanto procurava o foco.

Hesitei. Assim não vale a pena. Só consigo fotografar pessoas mesmo quietas, que não abundam num torneio de Karate. Estou aqui porque não posso estar ali, nos combates. A 50mm não é boa para fotografar combates, apanha ambiente a mais, as fotos ficam todas iguais.

Será boa ideia comprar outra lente? Talvez fosse, quem sabe.

Exercício 5, criar metáforas

  1. Escrever três colunas com cinco nomes abstractos, cinco nomes concretos, cinco adjectivos.
  2. Depois, escolher uma palavra de cada lista.
  3. O objectivo é criar uma metáfora com as três palavras: abstracto é concreto adjectivo.

O meu resultado foi:

A liberdade é uma objectiva loura.

Felizmente, acabou o tempo e não tive que desenvolver esta ideia louca.

Partes

Este artigo é parte de Reportagem de #ABC — A Bloggers Conference:

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